A autenticidade dos produtos turísticos digitais, ao nível das tecnologias de Realidade Virtual

A busca pela autenticidade é, atualmente, um dos principais motivos que levam os turistas a viajar. Com o surgimento e emprego da Realidade Virtual no setor do turismo será que é possível obter experiências autênticas sem sair de casa?

Antes de mais, o que é uma experiência autêntica em turismo?

Não existe uma definição concreta de autenticidade associada à experiência turística, porém existem dois conceitos que se destacam. A autenticidade objetiva diz respeito a algo que é classificado como verdadeiro ou original, geralmente através de critérios estabelecidos por especialistas e académicos. Como exemplo, temos os destinos e monumentos, capazes de transmitir uma identidade genuína, normalmente associada a algo tradicional e antigo, com elementos culturais, rituais, costumes, hábitos e tradições que não se alteram com o passar dos anos. Em contrapartida, a autenticidade também pode ser algo subjetivo, que varia conforme as perceções do próprio visitante, ou seja, uma autenticidade construída pelo indivíduo segundo o que este acha ser verdadeiro consoante a sua interpretação pessoal.

O que é que a Realidade Virtual pode oferecer ao setor do turismo?

Quando pensamos em experiências turísticas adquiridas numa plataforma digital, nomeadamente através da Realidade Virtual, associamos geralmente à realização de viagens por meio de dispositivos como os óculos de Realidade Virtual, que projetam qualquer tipo de imagem junto do utilizador, transmitindo a sensação de experienciar, em primeira pessoa, um destino ou atração existente em qualquer parte do mundo, sem necessidade de se deslocar.

No entanto, será o turismo digital capaz de providenciar experiências autênticas? Sim e não! Tendo em conta que a autenticidade pode ser construída pelo sujeito, segundo a sua interpretação pessoal, podemos afirmar que as experiências obtidas através da Realidade Virtual podem ser autênticas se o turista as percecionar dessa maneira. Para isso, importa que a experiência seja imersiva ao nível de estímulos sensoriais, veracidade dos conteúdos e design gráfico.

As tecnologias atuais já são capazes de oferecer um grau de realidade considerável, apresentando mundos virtuais com uma excelente e variada coletânea de sons e gráficos fotorealistas que retratam, com detalhe, o ambiente que nos rodeia, através de scans feitos, por exemplo, ao relevo de um determinado local ou à estrutura de um monumento e que possibilitam, em muitos casos, a livre movimentação no espaço virtual, bem como a interação com objetos e até com outros utilizadores.

Por exemplo, as Extended Reality (XR) são sistemas que agregam tecnologias existentes, como Realidade Virtual (VR), Realidade Aumentada (AR) ou Realidade Mista (MR) com outras tecnologias que permitem, entre outros, adicionar estímulos sensoriais à experiência virtual. A empresa Sensiks, cunhou o termo Sensory Reality (SR) por desenvolver cápsulas de tal forma imersivas que são capazes de simular elementos visuais, áudio, fragrâncias, fluxos de ar, flutuações de calor, sensações táteis e vibração. Outras empresas, como a OVR Technology e a Aromajoin, trabalham em tecnologias capazes de introduzir odores em experiências digitais de Realidade Virtual, associadas a espaços, ambientes e imagens. Já as tecnologias hápticas visam desenvolver e aplicar sensações de tato em experiências virtuais, atingindo esse fim através de sistemas que manipulam sensações de vibração, força e peso, normalmente através de aparelhos usáveis, como luvas ou fatos. A HaptX ou a exiii Inc são exemplos de empresas que desenvolvem produtos consolidados na dimensão do tato virtual. Claro que grande parte destas tecnologias ainda se encontram numa fase embrionária, pelo que falta percorrer um longo caminho até se consolidarem no mercado, de forma acessível e capazes de replicar o mundo real em ambientes digitais.

Por outro lado, podemos assumir que as experiências digitais nunca serão objetivamente autênticas, pois o produto digital não passa de uma réplica do mundo real, além de que ainda não é possível replicar de forma fidedigna aspetos físicos e sensoriais, como os cheiros, sabores, sons ou texturas.

Não é pretendido, portanto, que estes conceitos substituam o ato de viajar, no entanto, estes podem ter bastante aplicabilidade em certos casos, nomeadamente:

  • Complementar a experiência turística real;
  • Envolver pessoas com mobilidade reduzida na experiência turística;
  • Dar a conhecer um destino ou um produto antes de o adquirir;
  • Oferecer uma alternativa mais barata de viajar;
  • Solucionar problemas associados à capacidade de carga dos destinos;
  • Contribuir para a diminuição da emissão de gases com efeito de estufa, através da redução das deslocações dos turistas.

Consegue imaginar-se a subir o monte Evereste, experienciando a sensação do vento fresco a passar pelo corpo, a visitar o Grande Bazar de Istambul estando envolvido pelos cheiros das especiarias ou a pegar e sentir os artefactos históricos presentes no museu do Louvre em Paris, tudo isto no conforto de sua casa?

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