Intrépidas viagens de portugueses pelo mundo e um olhar crítico sobre o seu impacto no turismo

Muitas viagens. Muitas pessoas. Muitas histórias. E acima de tudo muitas aventuras e peripécias que se não fossem contadas na primeira pessoa poucos acreditariam que efetivamente aconteceram. É num podcast português, de autoria de António Pedro Moreira, Pedro On The Road, que nos chegam relatos de portugueses que viajam pelo mundo à margem da indústria turística, com poucos ou nenhuns planos de viagem, onde nem a duração da mesma é estanque. Uma viagem de três meses pode acabar por durar anos e significar uma mudança radical de vida, país, profissão…

Relatos de viagens a lugares intrépidos, em tempos de guerra ou em busca de retiros espirituais; à boleia ou a pé, moto ou trotinete; dinheiro ou sem ele; a dormir em couchsurfing ou na rua; em busca de vivências culturais, humanitárias e espirituais enriquecedoras ou em situações de perigo, doenças improváveis e acidentes que fazem temer pela vida… tudo é uma incógnita nestas viagens. Mas não é sobre as peripécias ou mesmo as motivações para tais aventuras que se debruça este artigo, mas sim sobre o impacto deste tipo de viagens na indústria turística e como, mesmo à margem do setor, o impulsionam.

Efetivamente, estes viajantes não utilizam os agentes turísticos ditos comuns para a realização das suas viagens, como agências de viagens (Abreu, BeTravel, …), cadeias hoteleiras, companhias aéreas, mas utilizam muitos outros serviços que inicialmente podemos não associar logo ao setor do turismo, mas que fazem parte dele. Por exemplo, numa viagem de moto pela América do Sul, André Sousa, com espírito de campeão e impulsionado pelo programa de Bear Grylls, vai em busca de uma experiência de sobrevivência de 5 dias na Amazónia. Para isso, precisa de um guia local na Bolívia e sem preparação nenhuma, comida ou mapas segue rumo à floresta amazónica com o guia, um australiano, uma catana e um fio de pesca. Foram 5 dias e uma data de peripécias e trabalhos, um jaguar, mais de 30 horas sem comer outra coisa que não larvas, uma insolação e desidratação do colega de aventura, construção de jangadas e aprendizagem de técnicas de pesca e caça. Tudo isto fez desta experiência uma das mais marcantes para André. E aqui conseguimos ver que mesmo numa experiência de sobrevivência, a indústria turística está envolvida pela procura de um guia local especializado.

Esta busca por guias locais não só impulsiona a economia das pessoas e dos locais, como também constitui uma grande oportunidade para a melhoria da qualidade de vida de algumas das comunidades onde este tipo de experiências é possível. No caso do André, o impacto é mais reduzido porque a troca monetária estabelecida foi com um guia local apenas, porém no caso da Filipa e do Diogo, aquando da sua estadia com uma tribo em Vanuato, esse impacto é mais visível. Em tempos uma tribo com práticas de canibalismo, para herdar a força e inteligência dos inimigos, recebe agora viajantes de todos os cantos do mundo com um sorriso no rosto e um ‘sistema de reservas’ bem estruturado e reconhecido por toda a tribo. Desta forma, conseguem manter a sua identidade e controlar o seu espaço, costumes e tradições, assim como permitir ao resto da população da ilha de onde são nativos desenvolver infraestruturas de apoio aos viajantes, como uma espécie de aeroporto e hotel.

Em viagens de carácter mais espiritual, como a da Patrícia Carvalho que esteve durante 10 dias num retiro Vipassana no Nepal em silêncio total e com uma rotina de meditação muito presente, as instituições que oferecem estas experiências também se enquadram na oferta turística do destino, sendo por isso, um grande contribuidor para a economia local. Referir também os hostels, os serviços de transporte rodoviário e ferroviário, assim como os restaurantes são muito utilizados por quem faz deste tipo de viagens, que no fundo não são assim tão à margem da indústria turística.

Agora, como é que estes aventureiros impulsionam a indústria turística? Muitas são as plataformas e empresas que encontram neste tipo de viagens uma oportunidade de negócio. Desde as mais conhecidas como CouchSurfing às menos como a IMOOVA, todas nasceram para dar respostas as necessidades destes viajantes. Com viagens destas, onde o perigo de acidentes ou situações mais ou menos assustadoras, como sequestros e furtos, são mais frequentes, algumas seguradoras viram uma lacuna nos típicos seguros de viagem. Empresas como IATI apostaram, assim, no desenvolvimento de pacotes de seguros para um segmento de viajantes mais aventureiros onde estão incluídos destinos turísticos menos usuais como o Nepal, Tailândia, Vietname, Peru, Madagáscar.

Impactante. É a palavra ideal para descrever estas viagens que não só marcam quem as faz como os destinos e as comunidades, porque viajar é “uma riqueza que se acumula e que nunca se perde” (Pedro on The Road & Maluco Beleza).

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